quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Poemas de João de Sousa Teixeira




Poesia de João de Sousa Teixeira na Sirgo.
Desenho de H. Mourato.

1 comentário:

João de Sousa Teixeira disse...

Dei por mim aqui. Obrigado.

Aproveito para dar um ABRAÇO a ANTÓNIO SALVADO, meu bom amigo e professor.
Deixo-lhe este poema:

AS PRIMEIRAS LETRAS




Enquanto discípulo involuntário,
quiseram que as corrompesse.
Inocentemente, construí e soletrei ditongos,
deduzi os sons pela Cartilha,
massacrei a gramática como pude.
Queria que as letras me servissem, e isso era impossível.
Dedilhei-as ainda, ensopei-as de saliva
e sublinhei-as com tinta e raiva para que se colassem a mim,
mas só com amor vieram.
Não sabia ainda da sua utilidade
e do quanto viria a gostar delas.
Pensava: para quê juntar as letras em papel
para dizer coisas, se posso até gritar as dores da alma
ou os frenesis do corpo?
Mais tarde, reparei que eram janelas
com vista para as palavras
e com estas e um pouco de imaginação poderia construir metáforas
e outras ilusões.
Poisavam nas minhas mãos como pequenos pássaros
nos peitoris debruçados para a rua;
nidificavam nos meus ombros
para melhor aconchego em todas as migrações.
Foram ficando.
São minhas companheiras fiéis.
Sem palavras.

http://corpodepoema.blogspot.com/
João de Sousa Teixeira